sexta-feira, 12 de julho de 2013

ROTEIRO DE NOVELA - No Atelier Artístico do Rio




No próximo dia 16 eu começo uma série de encontros no Ateliê Artístico do Rio onde vou falar sobre roteiro de novela. Serão 4 encontros, dando um panorama do gênero, desde a criação da sinopse, as funções de cada membro da equipe de autores, passando por uma análise da novela enquanto produto comercial e fenômeno de comunicação nacional.

Vou postar aqui no blog, a cada encontro, o conteúdo discutido. Aguarde!


(foto: Marcelo Faustini)



segunda-feira, 1 de julho de 2013

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Londres




Um vestido longo, de cor suave e alguns babados e laços. Para dar volume à saia, muitas anáguas farfalhantes. Um decote generoso. Cabelos presos. Cacheados, um preso meio solto, com mechas caindo no rosto. Um cavalo - meu cavalo, ou égua - encilhado (a). Um longo inspirar do ar frio, entrando pelas narinas e enchendo meus pulmões enquanto trotamos. Os prédios imponentes, as estrebarias precárias. As fachadas de vidro e aço, as tavernas de tijolos aparentes. Passado e presente se misturando ao som das ferraduras no asfalto. Foi desta forma que acabo descrever, sem tirar nem por, que minha alma passeou pelas ruas de Londres. Enquanto meu corpo chacoalhava nos trilhos do metrô ou no segundo andar do famoso ônibus vermelho, ou ainda num adorável cab londrino, minha alma trotava, montada e vestida como uma amazona votoriana, por onde quer que eu passasse.
Várias foram as alegrias, surpresas e emoções desta primeira ida a Londres (primeira nessa vida, digo). Emoções íntimas e afetivas, algumas duras até, que por pudor não vou expor aqui; e emoções artísticas. Ambas intensas. A ponto de, há quase um mês da minha chegada ao Brasil, ser esta a primeira vez que escrevo sobre a viagem no blog.
Este post é apenas o começo.


(Na foto o The Globe. Prédio fundamental nessa minha viagem, pelo valor artístico e afetivo.)

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Paris

















(Prédio de apartamentos em Paris, cena de rua, durante uma caminhada. Março, 2012)





Eu esperava encontrar uma cidade, encontrei uma renda, tramada com tamanha delicadeza em concreto, ferro e gesso, por todos os prédios, e na harmonia das ruas, também desenhadas como um imenso tapete de luxo e beleza. E nos dias em que estive por lá, a natureza tratou de se impor à cidade que foi feita bela pela mão do homem, contribuindo com as mais perfeitas luzes sobre os monumentos, as águas do Sena, o metal da Torre famosa, as fachadas dos apartamentos, deixando o céu azul e felizes os sorrisos dos parisienses, ávidos pelo calor e cor que o astro rei - a nossa estrela, não Louis XIV! - espalha pela cidade.

Passei muitos anos sem sair do Brasil, atarefada, sempre, adiando as viagens como quem espera a hora ideal, o tempo ideal, a companhia ideal. Mas viajar é um ato interno, que necessita de um impulso genuíno de curiosidade, uma fome de conhecimento, um desprendimento do que fica aqui. Uma abertura para o novo e para o encontro com o que a gente busca. E quando esse impulso acontece, a hora, o tempo e a companhia ideal surgem. A vida sempre ajuda, o movimento é sempre a favor.

Dois Pedros me levaram a França. O primeiro, da ficção, me levou a Nice, onde fiquei por três dias, hospedada no singular Hotel Negresco. Mas sobre esse Pedro, pouco posso falar. Ainda está se construindo e em breve vai me levar a New York. Eu sei, será inevitável. Sobre o segundo, foi minha admiração por ele que, há anos, me fez entrar para a Aliança Francesa. Eu sabia que um dia eu iria até lá, até o Hotel Bedford, onde ele viveu seus últimos dias.

Você pode achar estranho que eu tenha ido tão longe para ver, sentir, conhecer algo sobre Pedro II, se a vida dele está tão documentada no Museu Imperial, no Museu da Quinta da Boa Vista, na Biblioteca Nacional, e em tantos outros lugares entre o Rio e Petrópolis. Mas é que é lá que ele viveu seus últimos dias e, agora, respirando um pouco de Paris, eu entendo porque. Cientista, pesquisador, amante das artes e dos livros, era mesmo em Paris que ele poderia sobreviver, poucos anos, sim, ao exílio. Seus amigos intelectuais, as tardes na Sorbone, os museus, Paris é arte, beleza e conhecimento. E só mesmo isso, e a inabalável esperança de voltar ao Brasil, é que devem ter sido razão para que o imperador acordasse todos os dias, durante o breve período em que conseguiu fazer isso.

Pude entrar no quarto que foi dele, pisar no balcão que dava para a rua e contemplar a vista do ângulo que Pedro II o fazia. Tudo muito rápido e abusando da generosidade dos camareiros que arrumavam o quarto, visivelmente ocupado por um executivo, e que permitiram minha entrada ali, tamanha a emoção que passei.











De Volta

Ajustando os controles...

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Abra Suas Asas

O DVD de Dancin’ Days e o efeito dele sobre mim.

Antes de mais nada, é preciso que você entenda que eu sou uma apaixonada por novelas. Se o teatro construiu os meus alicerces e me alimenta ainda hoje, a literatura e o cinema refinaram meu espírito criativo e me desafiam como leitora e espectadora, as artes plásticas me aguçam e me inquietam, e se a música influencia desde o meu humor até a criação de uma personagem – além, claro, de marcar fatos e épocas da minha vida – as novelas conseguem fazer com que tudo isso entre em ebulição ao mesmo tempo, dentro de mim. Novela é literatura, cinema, teatro, música e artes plásticas ao mesmo tempo. E é política, é crítica social diária (para o bem e para o mal). Novela, no contexto brasileiro, é catarse e sonho. É o contador de histórias atávico que pulsa nas ondas e cabos, se embrenhando pelos lares os mais diferentes, os mais distantes, sem fronteiras sociais, sem fronteiras econômicas ou etárias. E arrebanha toda a nação em torno de um tema, de uma piada, de uma emoção. Se você não gosta de novela, você critica, esnoba, mas não passa impune a ela. Se a novela é ruim, eu não vejo. Sei que ela tá lá, fico sabendo do andamento dela pelas chamadas, pela imprensa, mas não acompanho. Agora, se a novela é boa, dessas de doer, eu me entrego. O Brasil se rende. E até você, que odeia novela, acaba se envolvendo. Novela boa é foda!

Comprei, pouco antes do Natal, a caixa com os 12 DVDs de Dancin’ Days. Logo ao ver a foto da caixa me subiu um frisson, uma alegria. Era um reencontro. Com uma época, com um estilo, com personagens que eu amei quando era uma garota de uns onze anos. Eu já tinha visto muitas novelas, desde bem pequena. O Astro, Locomotivas, Dona Xepa, Escrava Isaura, Estúpido Cupido, O Feijão e o Sonho, O Casarão, Saramandaia, O Grito, Anjo Mau, Pecado Capital, A Moreninha, Gabriela, O Rebú, O Bem Amado, Carinhoso, O Primeiro Amor, Selva de Pedra, são as novelas que eu tinha visto antes e que me marcaram mais. A maioria nem eram pra minha idade, eu sei, e me causavam um certo medo do mundo adulto; outras eram tão fantásticas que me maravilhavam. Pra outras eu me transportava totalmente e queria ser como as mocinhas, ou viver naquela época delas. Mas, Dancin’ Days era uma novela que falava diretamente comigo. A moda das discotecas estava começando e eu ia todo domingo na matinê do Tijuca Tênis Clube, onde a Sarro’s Disco Clube – de amigos da minha irmã – fervia a pista. Eu era uma garota tímida, já ficando dentuça, e que queria ser como a Glória Pires (Marisa) ou como a Lídia Brondi (Verinha). Enfim, eu queria crescer enquanto assistia Dancin’ Days. Isso em 1978.

Dezembro de 2011, eu começo a assistir aos DVDs. De cara me deu saudade da minha casa, meu pai e minha mãe assistindo a novela, todos juntos. A proteção deles. O vozeirão do meu pai. Que saudade... Minha mãe com os cabelos ainda pretos, só com uma mecha de cabelos brancos, que era um charme. Eu e minha irmã, que brigávamos muito, afinal eu era uma fedelha e ela já entrava na Hipopótamos! Lembrei dos meus amigos da época. Da decoração da nossa casa. A gente usava aquelas roupas! A gente usava aquele cabelo! Tinha aquela televisão. Dançava aquela música. Eu falava “careta”, “grilo”, “descurtir”, e nessa novela a gente começou a falar “tipo assim”, que está aí até hoje. Mas bastaram alguns capítulos, eu diante da tela, e todo o contexto virou pano de fundo. As minhas lembranças, a saudade, a música. Júlia Matos e Yolanda Pratini se impuseram. A história das duas irmãs que disputam a maternidade de Marisa é boa demais. Sonia Braga e Joana Fomm perfeitas! O casamento de trama e contexto cultural é brilhante. Passo então a assistir com olhos de telespectadora e – como separar? – de autora.

Yolanda é a vilã, mas sofre, é humana, tridimensional. As cafajestadas que ela faz estão alicerçadas em emoções verdadeiras: recalques, fraquezas, insegurança, preconceitos contra os outros e contra seu próprio passado. Isso dá a ela uma grandeza de composição e de identificação com o público que vai muito além do maniqueísmo de quem é bom ou mau na trama. A gente odeia Yolanda porque vê nela defeitos que a gente quer consertar, mas sabe que, pra isso, essa cachorra tem quer sofrer. Ninguém se purifica sem sofrimento. O mundo de sofisticação a que ela pertence e que a escora vai sendo devastado pela presença da irmã, ex-presidiária, que ela tenta esconder, tenda moldar, quando esta sai em liberdade condicional. Júlia é, para Yolanda, uma parte dela mesma que está varrida para debaixo do tapete e que, infelizmente volta à tona para questionar tudo. Gilberto Braga repete este padrão de vilã em Maria de Fátima (Vale Tudo) e Laura (Celebridade), com cores diferentes, outras premissas, mas com a mesma raiz. Enquanto Maria de Fátima e Laura beiram a psicopatia (a primeira nunca se arrepende do que faz e a segunda tem delírios de grandeza e vingança), Yolanda Pratini é dona de uma mesquinhez corriqueira. Yolanda pode morar na sua rua, no seu prédio, e você nem se dar conta.

E Júlia? Mais que um relato sobre a heroína da história e uma análise da sua criação, devo aqui fazer uma confissão: assisti a trajetória de Júlia Matos nesse DVD como mulher. E isso me trouxe uma reflexão mais profunda sob dois aspectos, o psicológico e o autoral.

Júlia foi presa muito jovem, amadureceu na cadeia, onde perdeu o encanto e a feminilidade. Saiu feia, insegura, um tanto dura consigo mesma e com a vida. Com princípios fortes e uma alma generosa, aceita a amizade e é também amiga leal. Mas foge do envolvimento com os homens e do amor do cara que mexeu com o coração dela, Cacá (Antônio Fagundes). Seu único objetivo é conquistar a filha. Foca nisso. Yolanda chega a lhe dar dinheiro pra que ela cuide da aparência a fim de poder arrumar um marido que a sustente e ficar apresentável para Marisa. Júlia não é dessas, e vai dando murro em ponta de faca, quebrando a cara, se dando mal. E é quando se decepciona com a filha – após a revelação de que é sua mãe – e faz um escândalo, indo presa novamente, que ela resolve mandar às favas os escrúpulos e passa a ser sustentada por Ubirajara (Ari Fontoura). Passa uma temporada na Europa às custas dele, ganha um “banho de loja” e dá uma virada. Volta deslumbrante, para reinar na pista da discoteca Dancin’ Days. Não tem mais medo da sua feminilidade, ao contrário, a explora. Ubirajara sabe que não é amado por ela, mas paga o preço para estar ao seu lado. Assim, apesar da aparente má fé, perdoamos essa mulher sofrida por fazer o que faz. Outros homens aparecem no caminho, ela e Cacá se encontram e desencontram, tramas de folhetim. Mas o que me interessa é explorar o aspecto de aceitação de Júlia do que ela em de bom e de ruim. E nesse ponto, me fez realmente muito bem assistir à trajetória dela. Eu também estive presa de certa forma e me libertei há poucos anos. Mas foi no ano passado que eu vivi a minha virada. Posso dizer que entrei em 2011 com uma cabeça e saí com outra. Não que eu esteja equilibrada, não. Um certo desequilíbrio impera. Não que eu tenha encontrado todas as peças do quebra-cabeças que é a minha identidade. Não que a criatividade, o sonho e a ficção tenham desocupado espaço para a vida real. Não, mas está mais claro o processo finito e as fronteiras desses dois países. Incompleta, levemente desequilibrada, mas há em mim hoje uma harmonia que há muito tempo eu não experimentava. A vida está mais interessante e a ficção mais madura. Em 2011 ganhei um passaporte para a criação solo. E outro para o amadurecimento como mulher. E, assim como Júlia, o que possibilitou isso foi a aceitação dos meus limites e das minhas qualidades. E enquanto eu assistia a trajetória de Júlia, iam caindo várias “fichas” sobre minha própria vida. Passada a euforia das pistas, Júlia pouco a pouco vai se tornando inteira: bonita, simples, amadurecida. Ela termina a trama, claro, conquistando a filha, reconciliando-se com Yolanda e amando Cacá. “Claudia, viu que, quando você relaxa as coisas acontecem?” Eu ouvi isso um momento precioso, e vou tentar criar um eco interno para não me esquecer. (Em um outro momento eu escrevo sobre a diferença entre relaxar e dormir).

Voltando a falar de novela. Quando acabou o DVD, desliguei o aparelho e entendi porque esse é o meu veículo. Porque é o meu vício, meu totem, minha expressão. Toca as pessoas de uma forma geral, mas em particular cada um... cada uma. Se uma história minha mexer com a alto estima de uma mulher como Dancin’ Days mexeu com a minha agora, that’s magic!

Agora, aguardo o lançamento de Escrava Isaura – já programado – e torço muito para que O Rebú (revolucionário, intenso, incrível!) esteja disponível um dia.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Sobre admiração, troca, afeto...


Esse abraço e esses sorrisos, significam muito pra mim.

Ari e Savalla me fizeram sonhar na frente da tv e me inspiraram nos palcos, quando eu ainda era aluna de teatro. Sempre foram dois exemplos de talento, duas fortes referências de amor e de entrega à arte, na minha formação. E nos últimos quatro anos tive o privilégio de compartilhar com eles as histórias do Walcyr. Um ciclo que agora se fecha.

Sete Pecados, Caras e Bocas, Morde e Assopra. É... eu que vivo de escrever, estou aqui, tateando esse teclado, tentando colocar em palavras o que é para uma autora escrever para esses dois. É lindo. É gostoso. É surpreendente. A gama de emoções com as quais a gente pode brincar! A gargalhada mais escrachada e despudorada pode dar lugar ao drama mais sublime, a lágrima mais delicada. É uma honra poder bolar uma frase, cena, indicar uma rubrica que seja, e colocá-la a serviço do brilho de Ari Fontoura e Elizabeth Savalla.

E o melhor é o entre cenas. Espaços ocupados - ainda que menos do que gostaríamos - pelos papos intermináveis, fartos em risadas, e uma dose de malvadeza, claro, que a gente é sacaninha de vez em quando. Essa foto foi tirada na casa de Joaquim e Paola, num jantar lindo, numa das comemorações do fim da novela. Uma mistura doida de alívio e saudade já pairava, para nós juntos era a terceira vez. Que tenha sido mais um "até breve" que se anunciava, se Deus quiser.

Ari, querido. Savalla, minha deusa. Pelos inúmeros personagens que assisti vocês interpretarem - e que invariavelmente influenciaram na minha formação como artista - e também pelo afeto precioso nesses quatro anos, obrigada. Devoto todo meu amor de fã e de autora babona à vocês!