sexta-feira, 25 de dezembro de 2009


2009 vai me deixando, como um lençol que escorre pelo meu corpo enquanto caminho da cama para o chuveiro. Foi bom. Enquanto completamos mais uma volta do planeta em torno do sol, meu corpo aquecido agradece a vida. Fiz amor com 2009 como não ousei fazer com nenhum ano antes dele. Um ano alternado entre carícias suaves e arrabatamentos selvagens nas letras, nos amores, nas amizades. Tudo me pareceu mais vibrante este ano, com um colorido tecnicolor impregnando as minhas retinas. Um ano de desbunde total. 2009 me fez sair de mansinho do casulo, feliz.
Mas há muito não vivia perdas tão grandes. O amadurecimento que me trouxeram, o tanto de solidão que cada morte nos tatua a alma em brasa com os dizeres "nada é pra sempre".
Enquanto a água cai na minha nuca e escorre pela minha pele, 2009 já se arruma no meu quarto, quase pronto para deixar a casa. Ele também me fez muito feliz. Terminada a jornada de trabalho, releio o post que escrevi sobre a estréia da novela e o ciclo se completa: conseguimos! Meus amigos e família com saúde, minha mente em paz. O coração nem tanto... 2009 nos alertou mais uma vez sobre o destino do planeta, mas não foi ouvido em Copenhagem. 2010 vai ter que falar mais alto, até que um ano grite o que está por vir.
Me enxugo, coloco o roupão e levo 2009 até a porta. Me despeço dele com um beijo molhado e quente. Queria que ficasse, mas os anos sempre vão e levam com eles a minha inocência, que vai se acabando, e deixam um tanto de saudade do que nunca mais verei. O interfone toca. 2010 está lá embaixo, e eu o deixo subir.

sábado, 17 de outubro de 2009

Ah, o medo!

Tô perdidinha. Viro à direita ou esquerda? Sigo em frente? Avanço o sinal, na cara dura? Dou marcha ré? Paro... espero... desmaio...?
Compro pão? Sorvete? Lasanha? Digo que não vou? Digo que não quero? Aceito? Faço cafuné... Mando passear... Beijo de tirar o ar...?
Fujo.
É fácil, rápido, mas dói.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Um cadinho di mim


Estive em São Paulo quinta, sexta e sábado. Apesar de muito trabalho, consegui tirar um tempinho pra fazer o que mais me dá prazer quando vou à Sampa: caminhar na Paulista. Pode ser um prazer besta, mas tantos dos nossos pequenos prazeres são assim, bestas mesmo, de raiz. Caminhar respirando a poluição dos carros na avenida mais bonita de São Paulo é um deles. Era noite, já, fazia um frio de 15 graus - que pra minha pele carioca é cortante, acredite - e fui do meu hotel, na Peixoto Gomide até a Livraria Cultura, que eu adoro. No caminho, comprei um cachecol, porque tava frio mesmo! Durante o trajeto, enquanto meus passos se firmavam um à frente do outro, tomava conta de mim aquela sensação gostosa de se sentir estrangeira. Gosto disso, mesmo que seja na cidade vizinha. Senti aroma de café, ouvi os risos de amigos que saiam do trabalho, ouvi sotaques carregados, vi olhos rasgados, puxados, redondos, negros, castanhos, azuis. E comecei a pensar no que procuravam. O que procuram nossos olhos? Os meus cruzavam com alguns na calçada, que desviavam, ou se fixavam, esperando alguma reação minha, e aí eu é que desviava. respirei o ar gelado, continuei em frente, pensando, entendendo que realmente estou procurando alguma coisa. Na livraria, mais quentinha, tirei o cachecol e comecei a namorar os livros, mas como a minha pilha em casa aind tá grande, passei para a sessão de DVDs, CDs. Comprei uns clássicos do cinema: Pandora com Ava Gardner e O Amor em Fuga, do Truffaut. Achei o Vagabundo Ao Vivo, do Ney com a Plap que eu não tava encontrando no Rio. O vendedor, mal me olhou nos olhos, não tinha tempo pra isso. A caixa também. Um ou outro leitor passou por mim e sorriu com os olhos. Sou tímida pra sorrir de volta, mas arrisquei. Quanta gente! Tem horas que o silêncio é enorme, mesmo na confusão. De repente eram muitos livros, muita cor, muita gente, e eu percebi que estava esgotada de um dia inteiro de trabalho exaustivo. Resolvi voltar pro hotel. No caminho de volta, do outro lado da Paulista, o frio, os passos, o cheiro de café, a poluição, os olhares. Então eu percebi o que eu procuro: um par de olhos. Que encontrem os meus e fiquem inquietos, curiosos, e se percebam serenos, amorosos, por se ligarem aos meus. Continuei andando - o hotel não é perto e parece que ficou mais longe ainda - agora eu percebia os outros e de uma maneira quase orgânica, fazendo parte daquele quadro paulistano, eu entendi que isso é o que todos procuramos. Nossa casa num olhar. De repente um cara pegou uma reta na minha direção. Não tirou seus olhos dos meus. Eu encarei. Então ele, baixinho, levemente feminino, carregando um monte de coisas na mão, parou diante de mim e disse, num inconfundível sotaque baiano "hoje começou um manifesto na Paulista..." Eu sorri, minha voz quase não saiu de tão fraca, murmurei "tô exausta do trabalho", desviei. Ele, mantendo bom humor, disse " eu tô falando", eu não consegui dizer mais nada, estava a essa altura me arrastando até o hotel, segui, caminhando de costas, olhando pro baiano, joguei uns três beijos, como que me desculpando por não ouvi-lo, e retomei meu caminho. Não sei se ele queria me vender uma coisa, ou idéia, ou ideologia. Quando dei por mim, eu já estava no meu quarto. Deitei. Fechei os olhos e dormi.

domingo, 10 de maio de 2009

HOUSE doce HOUSE


Hugh Laurie é hoje um desses caras que eu conheço bem. Sem conhecer. Quer dizer, convivo com ele quase que diariamente. Não com ele exatamente. Mas com seu corpo, trejeitos, voz, inflexão, olhares, silêncios... Não fisicamente. Ele é uma imagem que vem pelo cabo. E ele não é Hugh Laurie: ele é House. Sempre odiei seriados de hospital. Nunca são realmente bons, não retratam o universo fascinante e ao mesmo tempo repugnante que todo hospital tem potencial para ser. Hospital é um lugar de extremos. Pessoas nascem e morrem neles. Há grandes alegrias, tristezas profundas. É ponto de virada, de chegada, de partida. Comecei a ver House antes de uma grande cirurgia a qual iria me submeter e, resultado: me internei antes da hora. Comprei as caixas de temporadas passadas e as assistia compulsivamente, episódio atrás de episódio, durante todo o dia. Viciei em House como ele em Vicodim. Um dia, uma amiga chegou em minha casa e lá estava eu, no meio da tarde, deitada de pijamas no sofá, debaixo das cobertas, vendo a equipe do médico mais mau humorado do mundo da ficção lutando para salvar a vida de alguém que tinha lupus, ou sarcoidose, ou alguma outra auto-imune qualquer. Essa amiga, que estava em pânico com a cirurgia que eu faria me disse "não acho legal você ver isso o dia todo, parece que você já tá internada, amiga!". Mas não era o hospital em si que me fascinava: era House e sua visão de mundo tão oposta à minha, tão tragicamente sem esperança no ser humano, tão estéril afetivamente, tão agnóstico, tão ateu... Mas que existe em algum ponto de todos nós. A dúvida lá no fundo do otimismo. A descrença lá no íntimo da fé. O cantinho de solidão que abrigamos mesmo quando estamos cercados de afeto. A ironia, o sarcasmo, que existe em nós mesmo quando amamos! Sim. Ele é isso tudo em estado bruto e isso me fascina! Ainda mais porque, mesmo sendo esse misantropo adorável, ele quer salvar vidas. A minha ele salva, do tédio de programas sem graça. Foi meu companheiro pré e pós cirurgia, num momento que posso definir como ponto de virada na minha vida (sobre isso, vou falar um dia com mais calma). Pelas horas incansáveis no meu DVD, é que eu digo: obrigada, doutor House.

domingo, 26 de abril de 2009

Abril está terminando...


Abril está terminando e, desta vez, de certa forma, maio chegou mais cedo no meu coração. Maio é, há alguns anos, um estado de espírito. Uma tristeza. Uma saudade. Uma dor. Lembro que não percebi de imediato. Mas vinha aquele aperto no peito, uma vontade de chorar do nada... e quando eu me dava conta: era maio! Eu tinha 19 anos quando perdi meu pai num maio que o tempo não afasta. Hoje eu sei que passei mais tempo nessa terra sem a sua companhia, que ao seu lado. Mas não parece assim. Meu pai continuou e continua no mais lindo lugar da minha memória, do meu afeto, da minha alegria e gratidão. Muito do que me tornei devo a ele, coisas boas e más, claro! Problemas, sim. Realizações, com certeza. Nenhum momento, nenhuma dor que vivi depois daquela manhã se iguala. E quando chega maio, acho que respiro isso no ar. Meu pai sempre teve um espírito iluminado! Um sorriso lindo e um humor refinado. Foi autodidata, trabalhou desde muito novo para se sustentar, vindo de Santo Antônio de Pádua com alguns irmãos. Chegou a um cargo alto no Banco do Brasil, quando este ainda era uma referência, por esforço e mérito próprios. Me levou ao primeiro prédio que trabalhou no BB, onde hoje funciona o CCBB, com seus lindos teatros, cinemas e galerias. Sempre o adimirei por ter conquistado o que conquistou, mas sobretudo o admiro (porque ele ainda vive em outra esfera, eu sei!) por sua generosidade. Lembro como se fosse ontem, meu pai me perguntando " eu vou pagar cursinho de vestibular pra você fazer teatro ao invés de estudar?" Quando outro pai tiraria a filha do teatro, meu pai me tirou do cursinho. Me matriculou na melhor escola de teatro da época . Confiou no caminho que eu estava escolhendo, e eu tinha 17 anos. Ele não viu minha formatura. Mas sua generosidade permitiu que eu seguisse meu caminho e fosse feliz na minha profissão. Quando éramos bem moleques, eu, minha irmã mais velha, meus primos e primas, saíamos correndo das árvores na casa do meu querido tio Darcy quando o sorveteiro gritava na esquina, longe... "sorveteirooooo!" O único adulto que vinha conosco era meu pai, que pagava o picolé de toda a garotada. Sempre. Que saudade dos nossos papos, daquela voz grave e os olhos azuis que não herdei... Ah, rapazes! Vocês, que são pais de moças, de meninas e mulheres, vocês não imaginam o quanto são importantes na vida de suas pequenas. Pai, um beijo onde você estiver, querido.

sábado, 11 de abril de 2009

Estréia na telinha




Estréia de Caras e Bocas. Friozinho na barriga! Walcyr está inspirado e estou muito feliz de poder compartilhar esse momento com ele, que é um querido. Como sou noveleira desde criancinha, quando assistia O Primeiro Amor, Gabriela, A Moreninha; e segui, como todo o país assistindo Escrava Isaura, Dansing Days, O Rebú, Marron Glacê; depois Vale Tudo, Que rei Sou Eu, Água Viva, Roque Santeiro; me deleitei com Renascer, O Cravo e a Rosa, O Clone; confesso que andei insatisfeita vendo Duas Caras, dando uma olhada em Três Irmãs e desligando em Negócio da China. Não me venham falar de outras mídias, nem de migração de telespectadores para outras emissoras. Tudo desculpa para histórias sem sentido, sem tesão e sem pé nem cabeça. A Favorita voltou a mobilizar o país e levantou a audiência com três ingredientes fundamentais: uma boa história (simples, mas atraente) gancho no final do capítulo (parece até brincadeira dizer isso) e paixão do autor. Era claro que o João Emanoel, que não conheço pessoalmente, estava apaixonado pelos seus personagens. Não estava só ganhando o salário, como alguns autores fazem. Receita de bolo? Personagens previsíveis? Tudo isso faz uma novela! Mas é o tesão do autor que move atores, direção, técnica e consequentemente, público. E isso é, sim, o principal numa novela. Se o autor está inteiro no trabalho, se vive cada emoção de cada personagem, o público vai com ele. Está sendo muito bom ver esse tesão no Walcyr. Não é a toa que ele tem no currículo Alma Gêmea, Chocolate com Pimenta, Xica da Silva, O Cravo e a Rosa, entre outros sucessos. Poder estar a seu lado, contribuir e aprender com ele, é um privilégio. Estou me divertindo muito com os capítulos e espero que todos se divirtam. Que Caras e Bocas fique na memória de quem for assistir como uma novela que se teve prazer em ver, como as que citei no início. Merda pra nós!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Lançamento de Dez Contos Policiais, coletânea capitaneada pelo incrível Márcio Trigo. Meu conto, chamado In case of fire, traz o investigador Silveira às voltas com um assassinato em um circo.

Há alguns anos escrevi meu primeiro conto com o Silveira, chamado Reality Show, que faz parte de um livro solo, ainda não lançado. Mostrei o conto para o Trigo e ele gostou, mas estava longo para os padrões da coletânea, então escrevi um novo conto, com o mesmo personagem. Estou escrevendo um terceiro conto com o Silveira, chamado Pecado da Carne. Meu desejo é lançar um livro só do Silveira. Ele é investigador, não é um corrupto, mas nem sempre anda na lei. Aos poucos ele está descobrindo que tem síndrome do pânico. Até que a doença o pega de jeito. Nessa estréia, que é o In case of fire ele tem apenas uma pequena mostra do pânico. Tô adorando escrever esse personagem.

Agradeço ao querido Márcio trigo, companheiro de tantos trabalhos na TV e agora parceiro das letras, a oportunidade de colocar o Silveira nas ruas.

terça-feira, 17 de março de 2009

O melhor remédio


Até agora você pode ter pensado que encontrou uma blogueira romântica, que tem uma visão poética da vida. Acertou... em parte. Esta alma multifacetada que vos escreve é, sem dúvida alguma, uma apaixonada pelo belo. Belos gestos (sociais, íntimos, artísticos), belas palavras, bela vida. Mas, dentro de mim habita também um bufão. Sacana, irônico, mordaz. Sem essa faceta, não teria entrado para o seleto grupo de sacanas que foram escolhidos, lá em 1992, para o time do Casseta & Planeta, escrevendo para Bussunda, Cláudio Manoel, Reinaldo, Hubert, Beto Silva, Hélio De La Peña e Marcelo Madureira. Nem teria começado ali minha carreira de roteirista. Meu bufão interior, num puro instinto de sobrevivência na trupe totalmente masculina, era autor - segundo Emanuel Jacobina - das piadas mais machistas. Verdes anos de TV. Ainda hoje, quando entro pela porta do prédio da Jardim Botânico, 266, sinto agarrada nos meus poros a euforia de assinar o contrato com a Globo. Sim, porque eu estava garantindo salário e ao mesmo tempo, participando de um programa que sempre meteu as caras criticando e ironizando a vida política e social do país. Mais que nada, era divertido pra cacete! No Casseta, além de conviver com esses caras de quem eu era - e sou - fã, conheci César Cardoso, Juca Filho, o já citado Emanoel Jacobina (de quem eu sou irmã de fé) e, mais tarde, Mauro Wilson. O trabalho junto virou amor e nos tornamos o grupo Obrigado Esparro. Nosso grupo merece post maior e mais detalhado. Citei os Cassetas e os Esparros para explicar minha origem televisiva-sacana e dizer que, neste blog o humor também tem lugar de honra. Por isso, escolhi um episódio do seriado "Everybody loves Lula", do Kibelouco pra colocar hoje aqui. Até!

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segunda-feira, 16 de março de 2009

Aprendendo a blogar


Estou aqui, descobrindo as ferramentas. Test drive. Lua-de-mel com o Blog. Vou postar uma foto.
Essa é Miminha.
Criatura feliz que veio habitar minha casa e dividir o espaço com Pretinha, que chegou primeiro.
Ela está agora mesmo ao meu lado, enquanto escrevo. Como é doce a companhia dos gatos. Silenciosos, ternos, independentes. Pretinha já havia me mostrado. Miminha veio confirmar. Gatos gostam de ficar em casa, sem fazer nada. Desfrutando o ócio. Pensando bem, que péssima influência pra uma escritora preguiçosa. Ahhhhhh! Vou me deitar ao lado delas e ronronar.

domingo, 15 de março de 2009

Estréia na madrugada

Ok. Eu me rendo. Relutei, refuguei, fugi. Não deu, e estou eu aqui, na madrugada quente do Rio de Janeiro, após terminar a revisão de um trabalho... iniciando um blog. Disse que não faria. Disse isso a mim mesma. Dá trabalho. Ninguém vai ler. Mas, sabe - você que por acaso pode parar aqui algum dia - escrever é um vício. Mais uma porta se abre, mais uma página em branco se oferece, sedutora, aos meus olhos e dedos de escritora. É o começo.

Meu ofício de Sherazade é criar histórias para viver. E algumas vezes vivo nesse mundo paralelo e fascinante da ficção e dos sonhos. Mas a vida real é igualmente sedutora, muitas vezes, irreal. Surreal. Maravilhosa. Por isso, vou usar este espaço para ambas as paixões: a escrita e a vida. A palavra e a ação. Os personagens e os amigos. As tramas. As surpresas. O roteiro que escrevo e a história da qual sou personagem. Somos. Todos nós, reais ou imaginados. Vai ser divertido.

Enjoy!