(Prédio de apartamentos em Paris, cena de rua, durante uma caminhada. Março, 2012)
Eu esperava encontrar uma cidade, encontrei uma renda, tramada com tamanha delicadeza em concreto, ferro e gesso, por todos os prédios, e na harmonia das ruas, também desenhadas como um imenso tapete de luxo e beleza. E nos dias em que estive por lá, a natureza tratou de se impor à cidade que foi feita bela pela mão do homem, contribuindo com as mais perfeitas luzes sobre os monumentos, as águas do Sena, o metal da Torre famosa, as fachadas dos apartamentos, deixando o céu azul e felizes os sorrisos dos parisienses, ávidos pelo calor e cor que o astro rei - a nossa estrela, não Louis XIV! - espalha pela cidade.
Passei muitos anos sem sair do Brasil, atarefada, sempre, adiando as viagens como quem espera a hora ideal, o tempo ideal, a companhia ideal. Mas viajar é um ato interno, que necessita de um impulso genuíno de curiosidade, uma fome de conhecimento, um desprendimento do que fica aqui. Uma abertura para o novo e para o encontro com o que a gente busca. E quando esse impulso acontece, a hora, o tempo e a companhia ideal surgem. A vida sempre ajuda, o movimento é sempre a favor.
Dois Pedros me levaram a França. O primeiro, da ficção, me levou a Nice, onde fiquei por três dias, hospedada no singular Hotel Negresco. Mas sobre esse Pedro, pouco posso falar. Ainda está se construindo e em breve vai me levar a New York. Eu sei, será inevitável. Sobre o segundo, foi minha admiração por ele que, há anos, me fez entrar para a Aliança Francesa. Eu sabia que um dia eu iria até lá, até o Hotel Bedford, onde ele viveu seus últimos dias.
Você pode achar estranho que eu tenha ido tão longe para ver, sentir, conhecer algo sobre Pedro II, se a vida dele está tão documentada no Museu Imperial, no Museu da Quinta da Boa Vista, na Biblioteca Nacional, e em tantos outros lugares entre o Rio e Petrópolis. Mas é que é lá que ele viveu seus últimos dias e, agora, respirando um pouco de Paris, eu entendo porque. Cientista, pesquisador, amante das artes e dos livros, era mesmo em Paris que ele poderia sobreviver, poucos anos, sim, ao exílio. Seus amigos intelectuais, as tardes na Sorbone, os museus, Paris é arte, beleza e conhecimento. E só mesmo isso, e a inabalável esperança de voltar ao Brasil, é que devem ter sido razão para que o imperador acordasse todos os dias, durante o breve período em que conseguiu fazer isso.
Pude entrar no quarto que foi dele, pisar no balcão que dava para a rua e contemplar a vista do ângulo que Pedro II o fazia. Tudo muito rápido e abusando da generosidade dos camareiros que arrumavam o quarto, visivelmente ocupado por um executivo, e que permitiram minha entrada ali, tamanha a emoção que passei.