quinta-feira, 12 de abril de 2012

Paris

















(Prédio de apartamentos em Paris, cena de rua, durante uma caminhada. Março, 2012)





Eu esperava encontrar uma cidade, encontrei uma renda, tramada com tamanha delicadeza em concreto, ferro e gesso, por todos os prédios, e na harmonia das ruas, também desenhadas como um imenso tapete de luxo e beleza. E nos dias em que estive por lá, a natureza tratou de se impor à cidade que foi feita bela pela mão do homem, contribuindo com as mais perfeitas luzes sobre os monumentos, as águas do Sena, o metal da Torre famosa, as fachadas dos apartamentos, deixando o céu azul e felizes os sorrisos dos parisienses, ávidos pelo calor e cor que o astro rei - a nossa estrela, não Louis XIV! - espalha pela cidade.

Passei muitos anos sem sair do Brasil, atarefada, sempre, adiando as viagens como quem espera a hora ideal, o tempo ideal, a companhia ideal. Mas viajar é um ato interno, que necessita de um impulso genuíno de curiosidade, uma fome de conhecimento, um desprendimento do que fica aqui. Uma abertura para o novo e para o encontro com o que a gente busca. E quando esse impulso acontece, a hora, o tempo e a companhia ideal surgem. A vida sempre ajuda, o movimento é sempre a favor.

Dois Pedros me levaram a França. O primeiro, da ficção, me levou a Nice, onde fiquei por três dias, hospedada no singular Hotel Negresco. Mas sobre esse Pedro, pouco posso falar. Ainda está se construindo e em breve vai me levar a New York. Eu sei, será inevitável. Sobre o segundo, foi minha admiração por ele que, há anos, me fez entrar para a Aliança Francesa. Eu sabia que um dia eu iria até lá, até o Hotel Bedford, onde ele viveu seus últimos dias.

Você pode achar estranho que eu tenha ido tão longe para ver, sentir, conhecer algo sobre Pedro II, se a vida dele está tão documentada no Museu Imperial, no Museu da Quinta da Boa Vista, na Biblioteca Nacional, e em tantos outros lugares entre o Rio e Petrópolis. Mas é que é lá que ele viveu seus últimos dias e, agora, respirando um pouco de Paris, eu entendo porque. Cientista, pesquisador, amante das artes e dos livros, era mesmo em Paris que ele poderia sobreviver, poucos anos, sim, ao exílio. Seus amigos intelectuais, as tardes na Sorbone, os museus, Paris é arte, beleza e conhecimento. E só mesmo isso, e a inabalável esperança de voltar ao Brasil, é que devem ter sido razão para que o imperador acordasse todos os dias, durante o breve período em que conseguiu fazer isso.

Pude entrar no quarto que foi dele, pisar no balcão que dava para a rua e contemplar a vista do ângulo que Pedro II o fazia. Tudo muito rápido e abusando da generosidade dos camareiros que arrumavam o quarto, visivelmente ocupado por um executivo, e que permitiram minha entrada ali, tamanha a emoção que passei.











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