domingo, 10 de maio de 2009

HOUSE doce HOUSE


Hugh Laurie é hoje um desses caras que eu conheço bem. Sem conhecer. Quer dizer, convivo com ele quase que diariamente. Não com ele exatamente. Mas com seu corpo, trejeitos, voz, inflexão, olhares, silêncios... Não fisicamente. Ele é uma imagem que vem pelo cabo. E ele não é Hugh Laurie: ele é House. Sempre odiei seriados de hospital. Nunca são realmente bons, não retratam o universo fascinante e ao mesmo tempo repugnante que todo hospital tem potencial para ser. Hospital é um lugar de extremos. Pessoas nascem e morrem neles. Há grandes alegrias, tristezas profundas. É ponto de virada, de chegada, de partida. Comecei a ver House antes de uma grande cirurgia a qual iria me submeter e, resultado: me internei antes da hora. Comprei as caixas de temporadas passadas e as assistia compulsivamente, episódio atrás de episódio, durante todo o dia. Viciei em House como ele em Vicodim. Um dia, uma amiga chegou em minha casa e lá estava eu, no meio da tarde, deitada de pijamas no sofá, debaixo das cobertas, vendo a equipe do médico mais mau humorado do mundo da ficção lutando para salvar a vida de alguém que tinha lupus, ou sarcoidose, ou alguma outra auto-imune qualquer. Essa amiga, que estava em pânico com a cirurgia que eu faria me disse "não acho legal você ver isso o dia todo, parece que você já tá internada, amiga!". Mas não era o hospital em si que me fascinava: era House e sua visão de mundo tão oposta à minha, tão tragicamente sem esperança no ser humano, tão estéril afetivamente, tão agnóstico, tão ateu... Mas que existe em algum ponto de todos nós. A dúvida lá no fundo do otimismo. A descrença lá no íntimo da fé. O cantinho de solidão que abrigamos mesmo quando estamos cercados de afeto. A ironia, o sarcasmo, que existe em nós mesmo quando amamos! Sim. Ele é isso tudo em estado bruto e isso me fascina! Ainda mais porque, mesmo sendo esse misantropo adorável, ele quer salvar vidas. A minha ele salva, do tédio de programas sem graça. Foi meu companheiro pré e pós cirurgia, num momento que posso definir como ponto de virada na minha vida (sobre isso, vou falar um dia com mais calma). Pelas horas incansáveis no meu DVD, é que eu digo: obrigada, doutor House.