quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A capacidade de se reinventar


O facebook é cheio de aplicativos bobos como cafés que se oferecem aos amigos e que nunca serão tomados quentes, fazendas que dão um trabalhão virtual para quem se atreve a ter uma - nas horas de folga do trabalho real -, gangs de mafiosos sangunários e sedentos de grana em que vejo gente legal e pacífica ingressar. Tudo isso eu passo, não é pra mim. Mas tem alguns aplicativos que me distraem entre um texto e outro. Geralmente perguntas que você responde para saber que astro do rock você "é", essas coisas. Respondo, me divirto e esqueço. Mas um me chamou a atenção, não pela proposta, comum como as outras, mas pelo resultado. Revelador.

"Que personagem de filme você é?". Cliquei. Fui respondendo. Normal. Legal. No fim veio o resultado: Alice - Closer

Não tinha visto o filme. Engraçado, sempre tive preguiça pra ver esse filme, talvez porque Ana Carolina e Seu Jorge tenham me cansado com "É Isso Aí". Postei mesmo assim para que meus amigos compartilhassem a descoberta: eu sou Alice do Closer - e completei - agora vou ter que ver o filme. Em seguida vieram os comentários de que era tudo eu ser a Alice, que tinha realmente a ver, um ou outro mais empolgado se rasgou de elogios às duas. Passou. Até que agora, por estes dias, eu vi Closer pela primeira vez na televisão.

Fui assistindo ao filme sem entender minha semelhança com a personagem. Uma mulher que sofre por um cara. Tá, quem já não sofreu? Eu inclusive. Uma garota boba, que faz tudo pra agradar o cara. Hum, tô reconhecendo alguns defeitos meus... Ela é stripper. Se exibe, seduz, atiça outros caras. Linda segura. Mas com quem ela ama é tola, subserviente, quase infantil. Ainda não me identifico com essa mulher tridimencional, eu que me julgo tão 2D, tão clara, tão independente e nobre como meu signo me fez. Até a sequência final. Ela deixa o homem - ele sim tolo, fraco, infantil - mostra no documento que não é Alice coisa nenhuma e muda de país, de cabelo, de roupa. De olhar. Não que ela não sofra o amor não realizado. Não que ela não chore a decepção. Chora, sofre, mas se reinventa. E na última cena, enquanto a personagem caminha no meio da multidão, eu em 3D, ampliada por dores e prazeres que essa vida nos proporciona, sinto em cada molécula do meu corpo que eu sou Alice.

Há algum tempo postei, também no facebook: eu não me demoro muito no que não posso ter. Uma pessoa postou que isso é o Nirvana. Outro amigo disse que queria ser assim. Outra pessoa me perguntou "mas como?". Não se demorar no que não se pode ter não é fácil. Não. Exige um plano de fuga. Exige amor próprio e uma dose grande de maturidade. Foi com o tempo que eu conquistei "não me demorar" porque se eu não posso ter... (...)

Nâo quer dizer que eu não sofra. Não. Eu apenas me reinvento. Eu viro a página. Como Alice, eu levo a dor pra passear em outras paisagens, quem sabe, mais quentes e acolhedoras comigo.

Eu me reinventei inteira a cada amor que acabou. E sorrio para novos!
Eu passei por uma reinvenção física nessa vida que poucas pessoas saberão o que é na pele. 32 parafusos que reestruturam os ossos do meu rosto. E hoje eu noto que o meu coração é todo ele reinventado também. (Anda hoje, a madrugada em claro por conta de um quase alguém) ele está aqui, ó, se refazendo enquanto bate.

2 comentários:

  1. Belo texto. Precisamos conversar, amiga. Ao vivo.

    Parabéns pelo Blog. Visite o meu. Digite "Ricardo Soneto" no Google que o Bystander aparece. Quero sua opinião.

    Bjs, Claudinha.

    E saudades

    Soneto

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  2. Claudinha, hoje eu tô super emocionado. Ontem morreu um tio-avô, o último de uma geração que me deu tantas coisas que sou. Uma geração linda de mineiros e mineiras de outro tempo, um tempo sem teclas, cabos ou conexões, um tempo que será muito difícil contar pro meu filhinho o que foi, um dia. O fato é que , ontem, eu morri um pouco. Ou me encantei um pouco, como diz o JG Rosa. Mas saindo da digressão e chegando até aqui, talvez pelo que eu disse antes, talvez não, o fato é que seu texto me emociona bastante. Acredito piamente numa verdade: não houvesse nada do que houve nos nossos entrelaces, o Obrigado Esparro e suas sequencias, eu tenho certeza que, se a gente conhecesse, de alguma outra forma, seríamos, certamente, amigos. Eu gosto de saber que tem você nas nossas "esparras"vidas. Sem você aquilo seria um mundo difícil... rs rs rs Por isso me encanta ler suas palavras e saboreá-las sabendo um bocado do que há por trás delas. Pra mim isto passa de um belo texto, é uma narrativa, confessional, humana e rica, de uma pessoa comum e incomum, por acaso minha amiga e parceira Cláudia Souto. É desse material que se faz a grande vida, não a do Ter, a do Ser. É por aí. Captou, queridissima? Não disse que hoje eu tava muito emocionado... Quase gay. Te adoro, CS. E adoro ter este canto particular de seguidor seu aqui.

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